Desde que em 1945 aos sete anos de idade fui jogado ao mar por meu pai, Jacques Yves Cousteau, algo me impeliu a explorar, descobrir e compreender os segredos guardados no fundo do oceano. Um fato frequentemente mencionado é de que temos mais conhecimento sobre a superfície da lua do que sobre nosso oceano. Portanto, como podemos proteger aquilo que ainda não compreendemos? Em busca desta resposta decidi continuar a apoiar a filosofia do meu pai dedicando esforços para a conservação dos oceanos por meio da Ocean Futures Society, minha organização sem fins lucrativos sediada em Santa Barbara na California.
Temos atualmente o conhecimento e a tecnologia necessários para admitir que nós, humanos, somos a maior ameaça para nossos oceanos; mas somos também 100% responsáveis por sua preservação e proteção no longo prazo. A pesca predatória, a poluição, as mudanças climáticas, a acidificação estão afetando o oceano devido ao abuso e mal uso por parte dos humanos. No entanto, nossa sobrevivência depende do oceano. Assim, precisamos mudar nossa atitude pois ao causarmos dano ao oceano estamos, em última análise, prejudicando a nós mesmos.
Ao mesmo tempo que nos últimos 70 anos incentivamos a atividade de mergulho e vivenciamos as descobertas do oceano, ironicamente constatamos a aceleração do esgotamento dos recursos provenientes dos nossos oceanos. Quando mal havíamos começado a exaltar e apreciar o papel ecológico de cada espécie marinha e respectiva contribuição para a sustentabilidade do ecosistema marinho que chamamos de lar ... estávamos ao mesmo tempo aperfeiçoando nossa tecnologia de pesca a fim de retirá-los de lá antes mesmo que conseguissem se reproduzir e repovoar os mares.
Sob o ponto de vista ecológico compreendemos hoje a conexão que existe entre tudo e todos. Hoje, valorizamos a necessidade de isolar áreas a serem protegidas no oceano da mesma forma como fizemos no continente. Mas estamos centenas de anos atrasados no que diz respeito à proteção dos “bens” que nos oferecem os oceanos. Protegemos mais de 17% dos nossos continentes e menos de 3% dos oceanos. É chegada a hora de demonstrar a mesma dedicação pelos oceanos e reconhecer a importância da proteção de áreas marinhas como forma de aumentar a abundância, melhorar a biodiversidade e prover possibilidade de reprodução para as espécies que irão se perder nas áreas liberadas à pesca. É uma situação em que todas as partes devem ganhar. Noventa porcento das grandes populações de peixes estão sendo ameaçadas devido à pesca predatória sendo que a maioria dos pesqueiros estão em declínio. O problema é enorme mas a solução é clara, de efeito rápido e de baixo custo.
Pois é nestas circunstâncias que temos de ouvir nosso coração e manter a esperança no futuro, caso contrário eu não continuaria cruzando o planeta com a finalidade de compartilhar a missão da Ocean Futures Society. Habilitando as pessoas a individualmente assumir sua responsabilidade pela sustentabilidade dos oceanos a longo prazo. Tudo começa com um indivíduo, começa no coração e com a vontade de cuidar.
Quanto mais aprendo sobre o oceano mais me dou conta do quanto é reduzida minha compreensão a seu respeito. Mesmo após todos estes anos, cada vez que mergulho nas profundezas do oceano, sou invadido por um sentimento de maravilha e pelo desejo de investigar.
Temos esta dívida para conosco, temos esta dívida para com nosso planeta água: fazer tudo o que podemos para proteger um sistema do qual depende nossa sobrevivência.
Precisamos conectar o oceano à existência de cada ser humano. Esta é a única forma das pessoas entenderem que a qualidade de vida de cada um de nós depende da água, depende do oceano.
Meu pai disse “As pessoas protegem aquilo que amam”, portanto queremos que mais pessoas se apaixonem pela água. E eu digo “Proteja o oceano e protegerá a si mesmo”.
Sou grato ao trabalho da CONVICTO e agradeço por nos permitir na Ocean Futures Society compartilhar nossa missão e paixão pela proteção e conservação dos oceanos.
Por: Jean-Michel Cousteau,
Presidente da Ocean Futures Society